Yuri Freitas, da Agência Saúde DF | Edição: Willian Cavalcanti Um profissional da S e c r eta ri a de S aúd e d o Di s t r it o F e der...
Yuri Freitas, da Agência Saúde DF | Edição: Willian Cavalcanti
Um profissional da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) alcançou a notável marca de 50 anos de dedicação ao serviço público no Hospital Regional de Brazlândia. Este marco representa não apenas um exemplo de compromisso e longevidade na carreira, mas também uma inestimável contribuição para a área da saúde e o bem-estar da comunidade local.
Marilene de Abreu relembra histórias e afetos de uma vida dedicada à saúde pública
Você se lembra ou tem ideia de como era o mundo meio século atrás? Em 1975, o estado da Guanabara deixava de existir, o já bicampeão da Fórmula 1 Emerson Fittipaldi brigava ponto a ponto com o austríaco Niki Lauda, Pelé começava a jogar “soccer” no time do New York Cosmos e, na televisão, a primeira versão da novela Roque Santeiro era proibida de ir ao ar pela ditadura militar. No Distrito Federal, um acontecimento corriqueiro, mas importante: uma jovem de apenas 20 anos começava a trabalhar no novo Hospital Regional de Brazlândia (HRBz).
“Naquela época havia pouquíssimos funcionários. Era só um médico e ele fazia tudo – atuava na ginecologia, na maternidade, na pediatria, na clínica médica, na ortopedia…”, lembra a servidora da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) Marilene de Abreu, hoje com 70 anos, dos quais 50 foram dedicados ao HRBz.

“Ah, no começo eu achava que ia permanecer pouco tempo, porque eu pensava, ‘não posso ficar, não, essa é uma profissão muito sofrida, muito difícil!’”, admite Marilene, “mas, daí, comecei a ver como os pacientes que chegavam dependiam do nosso trabalho – aqui no Entorno, até hoje, as pessoas são bem necessitadas, tanto no sentido da doença quanto de recursos. Então, a gente tinha que fazer de tudo: executava o serviço técnico, de enfermagem, atuava como psicólogo, como assistente social… com o tempo, fui me apegando àquilo, tomando gosto mesmo, e fiquei. Fiquei!”, comenta, contemplativa.
Nascida em Brazlândia mesmo, Marilene entrou no HRBz como atendente de enfermagem – cargo que nem mais existe na SES-DF –, mas em poucos meses conseguiu uma bolsa de estudos para se capacitar no curso de auxiliar de enfermagem. Não muito tempo depois, concluiria outra capacitação e subiria mais um degrau, tornando-se então técnica de enfermagem. Durante todo esse tempo, ela se dedicou à unidade pediátrica do hospital, auxiliando no nascimento e na recuperação de incontáveis novos brasilienses.

Pacientes e colegas de trabalho
Por um acaso do destino, um dos bebês a receber seus cuidados foi Alessandra Correa, hoje gerente de enfermagem do próprio HRBz. “Marilene me deu assistência no meu primeiro mês de nascida, quando minha mãe me trazia na pediatria. Eu tinha asma e vivia sendo atendida aqui”, conta.
Alessandra também faz questão de falar da emoção que é trabalhar ao lado daquela que considera sua “diva”. “Para mim é uma honra, porque mostra a excelência do trabalho da enfermagem, quando a pessoa realmente gosta do trabalho – e a Marilene é sinônimo de compromisso, de responsabilidade, de cuidado. Ela tem o coração muito grande e conhece todos pelo nome. Os pacientes ela não trata pelo número do leito – ela faz questão de aprender o nome das crianças, das mães, dos acompanhantes. E ela tem uma memória inacreditável, ela sabe o nome de todo mundo do hospital”.

Homenagem e nascimentos
Quando Marilene completou 50 anos de serviços prestados à população de Brazlândia, em setembro, os servidores do HRBz organizaram uma festa de comemoração. Montaram uma vaquinha e conseguiram erigir uma placa de homenagem, em seguida mandaram elaborar uma joia dedicada à servidora, como lembrança dos amigos do HRBz. Marilene afirma que são muitas as memórias do local, formadas ao longo das cinco décadas – além dos inúmeros pacientes, foi também no HRBz onde nasceram seus três filhos e, depois, seus sete netos.

Mas há outro nascimento que causa o mesmo orgulho em Marilene: ela viu nascer o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde do mundo. Marilene conta que a implementação do SUS “trouxe a ideia de que a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Ela continua, “antes havia o INPS [Instituto Nacional de Previdência Social]. Naquela época, quem pagava o INPS tinha prioridade de atendimento sobre quem não podia pagar. Só depois que todos os que tinham o INPS eram atendidos é que se podia socorrer quem não tinha. Muitas vezes, quem não tinha dinheiro morria sem atendimento”, recorda.
Com a implementação do SUS, Marilene é categórica ao afirmar que o HRBz, a SES-DF e a saúde pública brasileira passaram por uma revolução. “Foi uma transformação profunda. Passou a vir gente de todo canto para ser acolhida aqui. Foi a partir da universalização do acesso que passou a existir a humanização do atendimento. Eu sou fã número 1 do SUS!”
Legado e lição de vida
Hoje, com o dia da aposentadoria se avizinhando, Marilene de Abreu põe na balança da própria história os dias que dedicou a cumprir a missão maior da enfermagem: estar sempre presente na linha de frente do cuidado à população. “Acho que fiz parte da história do hospital, com ética, amor, coragem e humor, todos os dias”, conta, durante o curto intervalo que conseguiu tirar para responder essa entrevista. “E acho que sempre trabalhei fazendo o melhor que eu podia – que eu posso! –, até hoje. Ser útil com amor, com coragem… acho que o legado que eu vou deixar é esse”.
Questionada sobre o que aconselharia às novas gerações que pensam em trilhar o mesmo caminho que ela iniciou há 50 anos, a servidora não demorou nem um segundo para responder. “Eu digo que estudem e que nunca deixem o afeto de lado. A técnica cura o corpo, mas o cuidado cura a alma! E que o SUS continue gratuito, humano e acessível. É importante que nós façamos o melhor – o mundo precisa de humanidade, de amor, de carinho, de gratidão. E eu resumo minha trajetória na palavra ‘gratidão’! Servir ao outro é um privilégio que poucos compreendem, e meu coração está cheio quando vejo que cumpri com amor e carinho essa trajetória. É apenas gratidão o que sinto por esses longos 50 anos”.

Da redação do Portal de Notícias
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